Numa tarde desesperançada, a quinta-feira qualquer, quase fim e uma semana sem diferença, mês idem ano sem importância. Ela anda pela rua, sua rotina ordinária, vai e volta, trabalha, dispersa sempre, busca evidências de emoções em todo canto, em quase tudo que vê, nada encontra, quando sim são coisas desmerecedoras, imagens comuns. Tal dia nem nada comum realmente não surpreendia, ao ponto de tornar o dia como extremo vazio. Atenta aos contrastes dessas variações poderia até pensar que algo a esperava, mas não despertou efeito. O quinto dia acontecia, sem mais, sem nada, ao término, em trânsito, sem público, rua deserta as dezessete, verão comia sem calor, esse fim de inverno onde aquecer demora mais. A coitada garota não é ninguém, sua estória não existe, é mera receptora do que virá, algo menos interessante ainda porém em vista de sua existência inventada tal registro possui mais veracidade. O deserto não a desanima, não existe saida mesmo sabendo o caminho certo. São construções prédios paredes pintadas, casas velhas muros tombados rabiscados, árvores troncos largos, poucas flores galhos ramos e folhas, muitas folhas, verdes, verde transformado em cinza, seu pensamento está sem cor, bicolor. Observa tudo, mas inexplicado a natureza te distrai, as formas curvilíneas embaralham em sua cabeça, preenche seu cérebro, distancia do concreto para um mundo de imagens invisíveis, tola ela quando dá por si abraça árvores como quem é vegetal. Pessoa simples de pouca beleza, muitas cascas que a representa, faz as cascas que a representa. Cuida de si, mas a árvore ainda está ao seus braços. Abre os olhos e a árvore de calçada percorre o olhar até o ponto inferior, raiz, esconde exposto aos pés pequena sobra descartada, essas que se joga fora, lixo vulgo, cinco livros recicláveis, cansados de seus donos, garota curiosa apanha, sem medo sem nojo sem créditos, livros sem sentido, dois romances banais, um guia de viagens, um diário limpo e um caderno de receitas. No último, volume de aperto diferenciado, uma página marcada com negativo branco e preto, incrível coincidência espelho do seu inútil pensamento. Foto sem cor se transfigura em papel real, único restante de palavras mentirosas. Era ela, real em grafite e tons de preto diluído. Um caminho distante dela mesma, mas era sim ela, longe, alto, caminhos curtos e ela. Cabeça nas nuvens viagem altiva para chegar lá, esse era o desenho da foto. Natureza clara em objetos brancos, igual a um quadro na parede, pausa no tempo e no invento. Sonha vasos de flores emoldurados e ela atenta as saídas e o outro lado, a vegetação aveludada, cachos ondulados espumados esfumados. Abraçada pelo verde sem cor, era como ela, lava a alma e estica numa fina linha para secar, metade se faz transpirar estendida na cerca de nuvens folhas, para dentro e para fora de sua terra. Uma fotografia jogada fora em meio a cinco livros aposentados, nada de novo se viu apenas mata fechada, folhagem cercada e delimitada invadindo os contornos da uniformidade. Passagens afuniladas saem do quintal em direção ao rural selvagem, monstros irreais são domados pela didática feroz da natureza. Ela lá, a espera de que aqueles flashes emitidos por sua imagem refletida no arquivo encontrado, pura coincidência, fossem para ela, imaginação. Ninguém existia, apenas acontecia, descompromissadas, a gravura e a figura meio humana da garota, a outra. Corre tanto percurso para alcançar o ar, perdurar lá, evaporar. As meninas são inexperientes apenas aprendizes, então de muito mais altamente longe ainda o narrador. Exagerado a distancia dele de tudo o que não acontecia naquela cena. Tão espaçado a contagem do que se define o termo de lonjura que ao mesmo tempo se confunde com você, que lê. Atingir o topo a copa das árvores para encurtar o chão até esse delírio que as duas sentiam, ora a cor de grafite outrora a de cor transparente, principalmente. Uma estória sem fim, até que ele aconteça, como nada realmente aconteceu acabou aqui, a garota carregou os livros e foi embora.